20140630

Círculo de Fogo (crítica)

Um ano(?) tendo se passado desde o lançamento, consolidou-se o consenso de que Círculo de Fogo é o melhor filme de todos os tempos. A constatação é intuitiva e dispensa maiores explicações, ocorrendo naturalmente a todos que tenham a felicidade de assistir à obra máxima de Del Toro e do Cinema-com-C-maiúsculo, mas nem por isso a crítica, especializada ou não, deixou de escrever prolificamente sobre a obra.
Muito se falou, por exemplo, em como o filme é multicultural, muito embora o protagonista seja americano, haja apenas um personagem negro e a personagem japonesa grite "PELA MINHA FAMÍLIA" enquanto ataca com uma espada. Falou-se em como é um filme importante em termos de representação da mulher (e, particularmente, da mulher asiática), embora haja apenas 3 mulheres em todo o elenco. Elogiou-se a inteligência visual de Círculo Fogo e a forma como o filme evita clichês e, em suma, o fato de ele ser a coisa mais linda que já passou por uma tela de cinema, mesmo sendo um filme de robôs lutando contra alienígenas que repete fórmulas batidas e não tenta ser mais do que é. Falou-se sobre como Mako é uma protagonista de verdade, e não uma desculpa para fan service; sobre como cada um dos personagens secundários, mesmo aqueles que nem têm falas no filme, tem mais carisma que todo o elenco da maioria dos filmes de ação; sobre como os dois protagonistas não se beijam no final. Eu já vi gente, inclusive, analisando a força que uma cena (aqui e aqui) de um segundo, quase imperceptível, que se passa ao fundo, teria como contestação aos paradigmas de gênero em um típico relacionamento hollywoodiano. Textos e mais textos, portanto, que embasariam o argumento de alguém que sustentasse o brilhantismo do filme, caso isso fosse realmente necessário (não é). 
O que importa, porém, é saber por que escreveu-se tanto sobre Círculo de Fogo. Por que fez-se tantas manobras, tanto contorcionismo, para classificar o filme como inclusivo, inteligente, único. E o motivo para isso é que, bem, o filme é bom. Ele é legal. Ele faz você querer gostar dele. 
Eu odeio cenas de ação, mas as cenas de ação de Círculo de Fogo são realmente legais. Pra começar, a câmera não fica balançando, de forma que é possível efetivamente entender o que está se passando, ao contrário do que costuma acontecer nesse tipo de cena, mas, além disso, elas passam muito bem a ideia de colossalidade que o filme propõe --- e isso é incrível. Os Jaegers e Kaijus parecem ter peso. Eles se mexem e você sente que algo gigantesco está se movendo. 
E, obviamente, eles são legais. Os Jaegers servem a um propósito na narrativa, é claro, o que também é elogiável, mas o que importa, de novo, é que eles são legais. Eles inspiram as pessoas a criarem histórias, a imaginarem seus próprios robôs. Círculo de Fogo é um prato cheio para o fandon, não apenas por tudo o que ele traz, mas principalmente por tudo o que ele sugere (como foram os 6 anos de invencibilidade do casal Kaidonovski?; como eram os outros Jaeger Mark 3?; ...). Círculo de Fogo é, por isso mesmo, a maior promessa de surgimento de um "clássico" dos últimos anos. É o filme que, na minha cabeça, tem a maior chance de sobreviver como ícone cult para as gerações futuras. 
Eu posso não saber, então, se o filme é ou não mais do que uma história de robôs gigantes. Talvez eu nem seja qualificado para dizer se é uma boa história de robôs gigantes. Se é uma homenagem à altura do gênero. Mas eu acho que é. Círculo de Fogo me faz querer achar isso.

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